Song of the Sea



Em um editorial do Nostalgia Critic sobre a onda de re's que o cinema vem tendo, um filme que é ligeiramente mencionado é Song of the Sea. E desde então, eu quis assistir mas nunca tive a oportunidade.

Mas a seguidora e amiga Mila sugeriu que esse filme fosse comentado, e eu pessoalmente agradeço por me lembrar de ver esse filme.

E se você tem alguma sugestão, fala com a gente que seu caso vai ser analisado.

Sem mais delongas, Song of the Sea.




A história narra sobre Ben, um garoto irlandês de 10 anos,  que culpa sua irmã muda Saoirse, de 6, pela estranha morte de sua mãe. No aniversário de 6 anos da garota, ela começa a fuçar no armário da mãe e descobre um manto, que a faz nadar no oceano, e traz à tona a natureza mágica da garota. A avó, preocupada, leva as crianças pra morar com ela, mas na cidade eles descobrem que Saoirse é metade selkie (criatura mitológica, já já chego aí) e que ela precisa cantar uma canção pra cumprir um tipo de profecia e salvar as fadas.

A primeira coisa que chama a atenção é que é um filme de animação tradicional, o que é uma lufada de ar fresco no meio de tantos 3D. Mesmo que a produção use computador pra animar, os frames são desenhados à mão, usando o flash ou outros semelhantes quando necessário. Há momentos em que o movimento não soa tão natural quanto os outros, mas são momentos pequenos e que não distraem tanto, ainda mais com o excelente trabalho de design de produção.


O design de cenários e personagens sofre influências celtas, mas ao mesmo tempo mantém o tom de livro infantil, sem deixar de ser complexo. Os cenários são surpreendentemente bem acabados e bastante detalhados, além da fotografia ser belíssima, mostrando paletas de cores que refletem a emoção dos personagens e os pontos narrativos da história.

Ao mesmo tempo, ele mantém alguns elementos de desenhos animados já conhecidos, como os designs de personagens, que são fofos e expressivos; e os cenários evocam outras obras conhecidas, como Meninas Superpoderosas. Mas como tudo se passa na Irlanda e tem como base a mitologia e cultura do lugar, a aura de fantasia ecoa pelas paisagens, mesmo nas urbanas.


E já que mencionamos o elemento fantástico, falemos da narrativa.


Se você já viu A Viagem de Chihiro ou Ponyo, vai se familiarizar com o ritmo e essência da narrativa. A atenção no timming das animações e emoções dos personagens é o que faz o filme. Uma sequência icônica é quando Saoirse descobre o manto e instintivamente vai pro mar, sequência essa em que não há diálogo, e assim como em outros momentos do filme, os sons ambiente fazem as vezes de trilha sonora. Mais ou menos como em Samurai Jack.

Assistam Samurai Jack.


Mas a trilha sonora por si só é um espetáculo à parte, sendo inspirada pelas músicas folclóricas da irlanda, bem como a cultura celta em si.


A única coisa que pode ser prejudicial no filme são as referências à mitologia celta. Não que seja algo ruim, mas são histórias e conceitos que não estamos acostumados, podendo prejudicar um pouco pra entender certas nuances da história. Felizmente, o filme explica bem o que são cada personagem, e até traça paralelos entre os personagens principais. Mais como em “Em Busca de Kalevala”, de Don Rosa, do que como em “O Mágico de Oz de 39”. E mesmo não explicando bem o que são os selkies, você pode entender o suficiente pra história e até se interessar em pesquisar.


Mas o que realmente faz o filme funcionar é o coração dele. Ele não tem um grande vilão com um grande plano, são pessoas como eu e você que tentam fazer o que acham que é o mais correto, ao mesmo tempo que tem que lidar com seus problemas e suas perdas. Ben e seu pai tornam-se personagens mais complexos à medida que vamos entendendo melhor o significado de Saoirse na vida deles, bem como a relação com o mito em que a história se baseia.


Ben culpa sua irmã pela morte da mãe, mas com o tempo compreende melhor a situação e aprende a se perdoar; o pai tenta ignorar toda a parte mágica de sua filha, em atos desesperados que mostram o amor dele pela sua família, mas ao mesmo tempo como ele ainda não superou totalmente a morte da esposa, tampouco sabe como lidar com uma filha com habilidades mágicas. A avó do mesmo jeito, ela quer o melhor pros netos, mas ao mesmo tempo não sabe exatamente como lidar com eles. Todos passam por uma etapa natural de aprendizado, e se tratando de um assunto tão delicado como esse, é bom ver que o filme sabe como conversar com o seu público.


Doce, mágico, e mostrando um extremo bom senso artístico, Song of the Sea é um filme que todo mundo deveria ver pelo menos uma vez na vida.


E Samurai Jack.
Assistam Samurai Jack.

E como esse filme merece, mais imagens a seguir: